domingo, 21 de agosto de 2016

Clã Raio - Capítulo I: O Treinamento




CLÃ RAIO

O sol surgia entre as brechas da janela trazendo consigo além de luz mais uma oportunidade de alinharmos erros dos dias anteriores. Levantei-me da minha enorme cama que acomodava apenas a mim e em meio a bocejos fui, aos poucos, tentando acordar. Depois de realizadas todas as atividades matinais necessárias, fui para o salão de treino, lugar anexo a minha propriedade onde  eu realizo o treinamento dos meus filhos todos os dias antes de irem para a escola.

Nossa família, assim como muitas outras da região, é composta por guerreiros de elite, e temos por obrigação proteger nosso pequeno vilarejo. Ser mentor de crianças não era tarefa à qual eu estava habituado, sempre treinei homens formados. 

Tão logo eu chego ao salão, meus filhos aparecem. O primeiro a entrar foi o Ryo, o mais velho, com seus dezesseis anos, alto, superando a mim, cabelos negros, pele levemente corada e grandes olhos castanhos, que iluminados pela luz solar tornavam-se verdes. Porém era o mais inexperiente, ao vê-lo me veio o desânimo diário por saber que seria mais um dia difícil. Em seguida entrou Ane com seus pulinhos, baixinha igual eu e minha falecida esposa, cabelos iguais aos do irmão, no entanto a diferença se dá apenas no tamanho, sua pele é branca e seus olhos de um verde-escuro encantador. Apesar de ser um ano mais jovem que seu irmão, ela sempre foi melhor nos combates. 


– Vamos começar logo o treino pai – Disse Ane, toda animada. 


– Calma filha, primeiro o alongamento. 


Como era de praxe, Ryo realizava o aquecimento de forma desengonçada e desanimada. Comecei a ensiná-los em seguida um golpe novo, que tinha o objetivo de localizar o inimigo pelas batidas de seu coração. Meus filhos ouviam atentamente, apesar do interesse de cada um ser bem diferente pelo assunto. 


– Todos os seres humanos possuem energia...  


– Mas Pai – Interrompeu Ane – Hoje não era dia de luta? 


– Não! Tá louca menina? – Disse  Ryo com indiferença. 


Por mais que eu sempre tivesse um cronograma ao qual eu seguia fielmente, resolvi me fazer de esquecido para agradar minha filha que adorava lutar: 


– Ah, é verdade... 

 

– Era só o que me faltava.


– Ryo... Vamos, vai ser legal, filho. 


A contra gosto, Ryo foi se preparando aos poucos para o combate, em contrapartida, Ane estava sempre pronta. Por mais que eu colocasse na minha cabeça que meu filho era um cavalheiro e não queria machucar a irmã, no fundo, eu sabia que a verdade era outra: Ele era fraco. Meu clã era um dos mais antigos da aldeia, meu primogênito gerava apenas desgosto, porém Ane me trazia esperança com suas habilidades de guerreira. 


– Podem começar crianças. 


Ane partiu em disparada na direção do irmão, tentava acerta-lo com uma sequência de chutes que aprendera na aula passada, Ryo defendia, mas, parecia que estava fugindo do que realizando um contra-ataque. 


– Você não pode fugir para sempre maninho. 


– Cala a boca... Aí – Ryo foi atingido com um chute duplo  e caiu no chão. 


Apesar de ser atingido ele se levantou, fiquei feliz com a cena, talvez agora ele parasse de agir como frouxo e partisse para o combate de fato.


Para minhas surpresa, Ryo apenas engoliu em seco e saiu andando. 


– Até que você luta muito bem! - Disse Ryo virando-se de costas em direção a saída. 


Eu não fiquei nem um pouco feliz com a cena. Como um filho do clã Raio pode ser incapaz de lutar? O sangue subiu em minha cabeça, corri em direção do meu filho e antes dele abrir a porta para sair do recinto o segurei pelo braço. 


– Agora o seu oponente sou eu! 


– Pai!? Eu não posso.


– Eu estou aqui criando guerreiros, que futuramente protegerão a vila, não estou aqui para criar maricas. 


Vendo a cara de pavor de meu filho no rosto tive uma mistura de sentimentos, ora pena ora raiva. Empurrei-o, ele levantou-se. Em seguida usei meu golpe galope de dor, que consiste em dar vários socos nos principais pontos vitais do oponente. Ryo, sem alternativa, usou uma defesa, coisa que ele sabia usar muito bem, e tentou me golpear no estômago, porém foi inútil, seu soco era raso, não trazia dor consigo. 


– Você é fraco... Por que você é fraco? 


Ryo não respondeu, seus olhos castanhos apenas me fitaram. Fiz meu último ataque, girei as mãos rapidamente que fez um pequeno redemoinho arremessando Ryo longe. 


– O treino acabou aqui! 


Sai andando calmamente, enquanto Ane corria em direção ao irmão para verificar se ele estava bem. 


– RYO – Gritou Ane - Você está bem? - Fica longe de mim. Eu ainda acabo com a vida dele!