domingo, 5 de fevereiro de 2017

Clã Raio


Capítulo III: Confronto Interno

Mais um sol nascia para as pessoas da aldeia. E mais uma vez eu estava indisposto para levantar. Sentia saudade do meu filho, Ryo.
-Bom dia Pai! -Ane me puxou dos meus pensamentos.
-Bom dia amor.
Levantei, porém de forma sintética, não sabia aonde eu estava com a cabeça, mas no mundo real não era. Eu temia por meu filho: "E se ele usar a magia para o mal?", eu pensava com meus botões.
-Pai...?
-Oi filha?!
-Vamos treinar?
Minha filha realmente tinha muito futuro com uma guerreira que protegeria muito bem a nossa pequena aldeia, sempre foi bem preocupada em aprender mais e mais.
-Vamos sim filha - Respondi, fitando-a.

Ane e eu começamos então nosso treino de praxe. Minha pequena sempre bem habilidosa. Mas, faltava algo, era nítido que o ritmo dela estava alterado, mais lento, sem pestanejar indaguei:
-Minha pequena, por quê esta mais lenta hoje?
-Que? - Ela demostrou surpresa.
-Ah Ane. Você parece abatida com algo.
Era obvio o motivo da minha filha esta mais lenta, desanimada na execução dos movimentos: Ane era muito apegada ao irmão, Ryo. O que eu poderia fazer para tornara e exímio guerreira que ela era. Depois que o meu filho partiu tinha a impressão de andar em círculos, não conseguia pesar de forma mais clara como antes. resolvi então perguntar:
-Sente saudade do seu irmão, Ane?
-Lógico -Responde Ane sem pestanejar. - Por que ele não volta para casa?
-Mas filha sí faz alguns semanas que seu irmão partiu.
-Sim, mas para mim parece um eternidade.
Ane abaixou a cabeça, franziu cenho, parecia chorar, mas não vi lagrimas de seu rosto, após um momento de silêncio, quebrou: 
-Por que você é um pai tão ruim para nós?
Não respondi. Não tinha entendido o porquê da minha filha me perguntar aquilo, sempre dei o meu melhor para cuidar dos meus filhos sozinhos, sempre chegara no limite de minhas forças para dar-lhes o de melhor. Nada do que eu fazia era suficiente.
-O treino terminou- Eu disse por fim.
Sem olhar para trás, Ane dirigiu-se para saída, na porta parou, a vi respirando fundo e em seguida proferiu as seguintes palavras:
-Agora sei o porquê do Ryo te odiar!
Ane terminado sua pronuncia de ofensa saiu. Meu mundo caiu. Minha filha querida Também me odiava assim como seu irmão. Não sabia a que ponto eu tinha chegado e nem o que tinha feito de errado. Senti o mundo me engolir e eu não ter uma chance alguma de sair do abismo que me sugava.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Devaneio


Poema escrito pelo advogado criminalista Anderson Menezes, formado em julho de 2016 em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie





Era meu último dia de vida
Estava aqui esperando para morrer.


Nossa, que alegria, o paraíso ou o inferno
Enfim, poderia conhecer!

Finalmente sairia deste mundo de rebeldia
Onde não se dá mas se espera receber. 

Ora, que porcaria! 
Um lugar em que tudo se quer 
E nada se merece ter.

Daria meus últimos suspiros
E não mais precisaria suplicar
Para que me deem um ar que eu respire
E ouçam o que não pude falar.

As palavras estavam a me sufocar
E o que não disse nem pude escrever
Pois sempre que o fazia procuravam me calar
E apagar tudo o que iriam ler.

Ajoelhei-me aos céus 
E rezei para as estrelas
Mas ninguém veio me socorrer. 

Em meio a tempestades apaguei velas
E preferi o frio a me aquecer.

Quando tudo parecia perdido
Uma esperança senti se acender. 

Ao fim do túnel havia um grande abrigo
Era a eternidade na porta a bater.

Enquanto eu sonhava
Outros riam comigo
Mas quando eu chorava ninguém vinha me conter. 

As lágrimas meu sorriso calavam
E minh'alma a tristeza seguia a abater.

Então decidi abrir para a solução
Que vinha partilhar a bem aventurança com prazer
Sentia palpitar o meu coração
A cada instante em que sugavam meu viver.

Meu sangue escorria
Minha face queimava
Meu corpo se corroía
E a morte me condenava.

Talvez poderei vir de vez em quando
Mas com certeza não posso dizer
Pois então será um desencanto me procurar 
E não poder me ver.





sábado, 3 de setembro de 2016

Clã Raio - Capítulo II: Visitando meu irmão






Terminado o treino fui fazer uma caminhada para aliviar a mente. Andei bastante pelos arredores da vila até chegar na casa do meu irmão mais velho. Apesar de não ter muita afinidade com ele, Litto era um sábio para momentos de dificuldades.


Bati na porta de Litto, aguardei, porém ninguém me atendeu, esperei um pouco, depois fui para o jardim, meu irmão adorava ficar treinando magia por lá. Em meio aos corredores de tulipas avistei-o sentado no chão lendo um livro.

- Olá, Litto! 


- Oi, Ben, quanto tempo. Imagino que para você ter vindo até aqui é por um motivo importante. 

Meu irmão levantou, cumprimentou-me brevemente e sentou-se novamente, focando novamente em seu livro. Pelo visto, depois de tanto tempo, ele continuava sendo o mesmo arrogante de sempre. 


– Meu filho, o Ryo, ele... Você está ouvindo? 

– Sim, o que tem o Ryo? - Litto perguntou sem tirar o olho do livro. 


– Ele, ele é… - Era difícil para mim dizer aquelas palavras que estavam na minha mente – Ryo não luta. 


Uma coisa era eu saber que meu filho era fraco e não lutava, outra muito diferente era expor isso, mesmo que para meu irmão. 


– Humm, entendo. Parece que o pequeno Ryo puxou o tio, será?! - Disse, aos risos. 


– É sério, Litto. Ele está sendo uma vergonha para mim e para o clã... 


– Da mesma forma que eu fui para o Pai? - Litto perguntou em tom sério, focando agora os olhos em mim.


Fiquei sem resposta. Litto voltou a atenção novamente à leitura. Após um tempo, notei que entramos num daqueles silêncios que parecem não ter fim. Litto quebrou:  


– Se você quiser posso ensinar meus truques para seu filho. 


–  Magia? Não sei se é uma boa ideia. 


Nós pareciamos andar em círculos. Por mais que eu seguisse as regras do clã à risca, que era treinar corpo e alma apenas, estava disposto a deixar meu filho treinar outras atividades com seu tio. 


Após debatermos muito o assunto, concordei em deixar meu filho aos cuidados de Litto. Era uma decisão difícil que eu havia tomado, porém era necessário. Lidar com magia é uma arte que corrompe os mais ímpios dos homens, caso não haja prudência,  a perdição é certa. Mas já estava decidido, meu primogênito por não saber lutar iria defender o clã usando a magia, assim como meu irmão faz. 


Ryo recebera a notícia de que viveria com seu tio manipulando os elementos da natureza de forma bem serena. Sua calma me assustava, talvez ele tivesse nascido destinado a isso, da mesma forma que as abelhas nascem destinadas a colher o pólen das flores. 


– Adeus maninho. Vou sentir saudades. - Disse Ane, se despedindo do irmão com um abraço apertado. 


– Adeus. Mas vá sempre me visitar quando possível. 


– Vamos logo, Ryo. Seu tio o aguarda ansiosamente. 


– Sim, vamos Pai. 


Ryu deu o último abraço na irmã e em seguida me puxou em direção a casa de meu irmão. Caminhávamos lentamente. Eu e meu filho olhávamos para trás, avistávamos a pequena Ane sentada na grama molhada, da chuva do dia anterior. Passados alguns metros de casa, minha amada filha não podia ser mais vista. Ryo, após sua última olhada para trás me surpreende: 


– Eu era fraco. Aliás, ainda sou, mas quando eu voltar para casa vou  mostrar quem é o real fraco aqui.  


Engoli em seco. Meu filho usou um tom que eu jamais vira, apesar de conhecê-lo muito bem, em questão de segundos me vi diante de um desconhecido. Tentei amenizar o clima com uma piadinha, de forma inútil: 


– Isso foi uma ameaça, filho? 


– Não!  - Ryo olhou para mim com um ódio bastante visível - Foi apenas um aviso! 


Enunciado suas palavras finais, meu filho partiu de uma forma bem violenta para cima de mim. Todas as técnicas que tentei ensiná-lo por anos parecem finalmente ter assumido discernimento em sua mente. Porém era pouco. Facilmente o imobilizei pelo pescoço, fazendo-o parar. Ryo parecia tremer, quando soltei-o,  lágrimas caiam de seu rosto.  

– Um dia eu volto para terminar o serviço - disse em meio ao choro.

Assenti com ressentimento. Ryo era meu filho, porém eu nunca fui um bom pai. Fizera o meu melhor para criar meus filhos sozinhos, no entanto não foi suficiente. Estava claro nos olhos de meu filho o mal.



domingo, 21 de agosto de 2016

Clã Raio - Capítulo I: O Treinamento




CLÃ RAIO

O sol surgia entre as brechas da janela trazendo consigo além de luz mais uma oportunidade de alinharmos erros dos dias anteriores. Levantei-me da minha enorme cama que acomodava apenas a mim e em meio a bocejos fui, aos poucos, tentando acordar. Depois de realizadas todas as atividades matinais necessárias, fui para o salão de treino, lugar anexo a minha propriedade onde  eu realizo o treinamento dos meus filhos todos os dias antes de irem para a escola.

Nossa família, assim como muitas outras da região, é composta por guerreiros de elite, e temos por obrigação proteger nosso pequeno vilarejo. Ser mentor de crianças não era tarefa à qual eu estava habituado, sempre treinei homens formados. 

Tão logo eu chego ao salão, meus filhos aparecem. O primeiro a entrar foi o Ryo, o mais velho, com seus dezesseis anos, alto, superando a mim, cabelos negros, pele levemente corada e grandes olhos castanhos, que iluminados pela luz solar tornavam-se verdes. Porém era o mais inexperiente, ao vê-lo me veio o desânimo diário por saber que seria mais um dia difícil. Em seguida entrou Ane com seus pulinhos, baixinha igual eu e minha falecida esposa, cabelos iguais aos do irmão, no entanto a diferença se dá apenas no tamanho, sua pele é branca e seus olhos de um verde-escuro encantador. Apesar de ser um ano mais jovem que seu irmão, ela sempre foi melhor nos combates. 


– Vamos começar logo o treino pai – Disse Ane, toda animada. 


– Calma filha, primeiro o alongamento. 


Como era de praxe, Ryo realizava o aquecimento de forma desengonçada e desanimada. Comecei a ensiná-los em seguida um golpe novo, que tinha o objetivo de localizar o inimigo pelas batidas de seu coração. Meus filhos ouviam atentamente, apesar do interesse de cada um ser bem diferente pelo assunto. 


– Todos os seres humanos possuem energia...  


– Mas Pai – Interrompeu Ane – Hoje não era dia de luta? 


– Não! Tá louca menina? – Disse  Ryo com indiferença. 


Por mais que eu sempre tivesse um cronograma ao qual eu seguia fielmente, resolvi me fazer de esquecido para agradar minha filha que adorava lutar: 


– Ah, é verdade... 

 

– Era só o que me faltava.


– Ryo... Vamos, vai ser legal, filho. 


A contra gosto, Ryo foi se preparando aos poucos para o combate, em contrapartida, Ane estava sempre pronta. Por mais que eu colocasse na minha cabeça que meu filho era um cavalheiro e não queria machucar a irmã, no fundo, eu sabia que a verdade era outra: Ele era fraco. Meu clã era um dos mais antigos da aldeia, meu primogênito gerava apenas desgosto, porém Ane me trazia esperança com suas habilidades de guerreira. 


– Podem começar crianças. 


Ane partiu em disparada na direção do irmão, tentava acerta-lo com uma sequência de chutes que aprendera na aula passada, Ryo defendia, mas, parecia que estava fugindo do que realizando um contra-ataque. 


– Você não pode fugir para sempre maninho. 


– Cala a boca... Aí – Ryo foi atingido com um chute duplo  e caiu no chão. 


Apesar de ser atingido ele se levantou, fiquei feliz com a cena, talvez agora ele parasse de agir como frouxo e partisse para o combate de fato.


Para minhas surpresa, Ryo apenas engoliu em seco e saiu andando. 


– Até que você luta muito bem! - Disse Ryo virando-se de costas em direção a saída. 


Eu não fiquei nem um pouco feliz com a cena. Como um filho do clã Raio pode ser incapaz de lutar? O sangue subiu em minha cabeça, corri em direção do meu filho e antes dele abrir a porta para sair do recinto o segurei pelo braço. 


– Agora o seu oponente sou eu! 


– Pai!? Eu não posso.


– Eu estou aqui criando guerreiros, que futuramente protegerão a vila, não estou aqui para criar maricas. 


Vendo a cara de pavor de meu filho no rosto tive uma mistura de sentimentos, ora pena ora raiva. Empurrei-o, ele levantou-se. Em seguida usei meu golpe galope de dor, que consiste em dar vários socos nos principais pontos vitais do oponente. Ryo, sem alternativa, usou uma defesa, coisa que ele sabia usar muito bem, e tentou me golpear no estômago, porém foi inútil, seu soco era raso, não trazia dor consigo. 


– Você é fraco... Por que você é fraco? 


Ryo não respondeu, seus olhos castanhos apenas me fitaram. Fiz meu último ataque, girei as mãos rapidamente que fez um pequeno redemoinho arremessando Ryo longe. 


– O treino acabou aqui! 


Sai andando calmamente, enquanto Ane corria em direção ao irmão para verificar se ele estava bem. 


– RYO – Gritou Ane - Você está bem? - Fica longe de mim. Eu ainda acabo com a vida dele!